Por Vitor Vogas / ES 360 / Foto: Divulgação
À primeira vista, o deputado estadual Sérgio Meneguelli não tem muito a ver com o ex-governador Paulo Hartung. Em março de 2018, os dois foram vistos juntos em uma situação inusitada. Hartung era governador; Meneguelli, prefeito de Colatina. Em evento no pátio externo da Secretaria de Estado de Esportes, a banda marcial do Exército executou “Para bailar la bamba”. Desenvolto e descontraído, o então prefeito de Colatina começou a dançar passos de twist, quadril pra cá, quadril pra lá, e chamou Hartung para a dança. Muito mais timidamente, de terno e gravata, o então governador também arriscou uns pasitos.
Passados sete anos, quem diria, os dois começam a dançar juntos, politicamente, no mesmo partido e no mesmo movimento político-eleitoral. Determinado a ser candidato a senador no próximo ano, Serginho, como é mais conhecido, já decidiu o partido em que vai acomodar sua candidatura. “O meu pé direito já está no PSD. Tudo indica que vou para lá. É o mais correto para mim, politicamente, neste momento. Hoje, se eu não estivesse atrelado a algum partido político, eu de livre e espontânea vontade me filiaria ao PSD. Só preciso soltar a mão do Republicanos, para continuar caminhando.” Ou dançando.
O Partido Social Democrático (PSD) é, desde maio, a legenda de Paulo Hartung. O ex-governador não só estimula a filiação de Serginho como já lhe deu sua bênção política. Nesta semana, os dois se falaram por videochamada. O ex-prefeito de Colatina estava no gabinete do atual ocupante do cargo, Renzo Vasconcelos, aliado dele e presidente do PSD no Espírito Santo. Hartung estava em São Paulo, ao lado do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. O ex-governador ligou para Renzo para falar com Serginho e colocou-o na linha com Kassab. O líder nacional do PSD reforçou o convite de filiação. A convite de Hartung, Serginho deve ir pessoalmente ao encontro de Kassab, em São Paulo, neste mês.
Serginho está filiado ao Republicanos, partido pelo qual se elegeu deputado estadual em 2022. Mas está decidido a sair – aliás, já assumiu o mandato com essa decisão tomada, em virtude de desentendimentos ocorridos no pleito de 2022. Na ocasião, ele queria ser candidato a senador pelo Republicanos, mas a direção do partido lhe negou a legenda, restando a ele concorrer a estadual.
Entretanto, pela regra da fidelidade partidária, deputados não podem trocar de partido no meio do mandato sem justa causa, sob pena de perderem o mandato na Justiça Eleitoral. Somente por esse motivo Serginho ainda não consumou sua troca de sigla, e é isso que ele quer dizer com “soltar a mão do Republicanos”.
A mudança de partido já é certa. O novo destino, idem. A questão agora, então, não é mais se ele vai mesmo para o PSD, mas quando fará isso. Há duas possibilidades: ou ele recebe uma carta de anuência da direção estadual do PSD, presidido por Erick Musso no Espírito Santo, liberando-o para sair a qualquer tempo; ou ele espera pacientemente a próxima janela partidária, em março do ano que vem, durante a qual os deputados com mandato poderão mudar de legenda sem risco de cassação.
A coluna apurou que a direção do Republicanos, a princípio, não pretende dar a Serginho o que ele mesmo chama de “carta de alforria”. Sendo assim, ele terá de esperar a janela para “soltar a mão” do Republicanos e pôr seu outro pé no PSD.
Em meia hora de conversa com a coluna, Serginho não fez uma só crítica direta ao Republicanos. Busca manter um ambiente respeitoso com a direção do partido, até porque sabe que, na atual conjuntura, o PSD, de Renzo Vasconcelos e Hartung, e o Republicanos, de Erick Musso, tendem a ser aliados na próxima eleição estadual, com boas chances de formarem uma coligação nas disputas majoritárias (para o cargo de governador e para as duas vagas no Senado).
O Republicanos tem pré-candidato a governador: o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, adversário do Palácio Anchieta. Serginho elogia Pazolini, mostrando-se disposto a apoiá-lo. Afirma que não apoiará o candidato do governo Casagrande, com quem diz que vem tendo dificuldades.
“Não vou ficar com o candidato do Casagrande. Ele prende minhas emendas parlamentares. O Republicanos tem um bom candidato hoje”, diz o deputado. “Casagrande não atende certas coisas, se for ligado a mim, porque ele me vê como uma ameaça. Ele não tem interesse que eu seja candidato a senador. Não sei por quê, já que, segundo as pesquisas, ele tem uma eleição tranquila para o Senado.”
Pazolini, assim, pode ganhar um cabo eleitoral importante – sobretudo no interior do Estado, onde hoje o pré-candidato do governo, Ricardo Ferraço (MDB), tem muito maior inserção.
“Posso apoiar o candidato do Republicanos a governador. Se o PSD fechar com ele [Pazolini], apoio ele tranquilamente.”
Candidatura ao Senado, sem alternativa
Serginho está irredutível em relação à sua candidatura em 2026.
“Vejo uma grande chance para mim. Só tenho um grande objetivo nas eleições do ano que vem. Para deputado federal, hoje graças a Deus todos me querem, me convidam, mas eu não quero. Deputado estadual eu não quero mais ser. Mesmo se eu for nomeado bionicamente, não quero ser. Meu único objetivo é ser candidato a senador no ano que vem. Meu plano B é ser senador, meu plano C é ser senador. Se eu não conseguir, quero voltar para minha Colatina e posso até, não sei, virar vereador de novo.”
Desfiliação do Republicanos: mais do que certa
Firme em sua decisão de sair do Republicanos, Serginho evita polemizar com o atual partido, mas faz uma observação mais crítica, acerca da recente aproximação com o senador Magno Malta.
“Não saí do Republicanos desde aquela época porque eu perderia o mandato. Cheguei a pedir informalmente a minha ‘carta de alforria’. Não fica bem eu ficar no partido, e eu não quero brigar. Mas não vou ficar no Republicanos, até porque hoje o Republicanos já está de mãos dadas com o Magno Malta, com a Maguinha…”
Magno é o presidente estadual do PL. Já lançou, para o Senado, a sua filha Maguinha Malta. Para formar uma aliança de direita em torno da candidatura de Pazolini ao governo, o Republicanos tem estreitado o diálogo com o partido de Jair Bolsonaro. No último dia 25, Pazolini, Erick, Magno e Maguinha circularam juntos, pela primeira vez, em uma feira agrícola em São Gabriel da Palha.
Serginho não se dá com Magno. Acredita que o senador tenha agido, em 2022, junto à direção nacional do PL, para impedir que ele tivesse a legenda para se candidatar ao Senado – facilitando, assim, seu próprio retorno à Casa.
Pela “porta da frente”… ou pela janela
Serginho diz querer sair do Republicanos mediante uma “carta de alforria” (a liberação formal), a qual, segundo nossa apuração, ele dificilmente obterá. Nesse caso, ele deixa claro: sairá na próxima janela.
“Estou com uma esperança de que a gente consiga a carta de alforria do Republicanos, me liberando. Ainda não formalizei o pedido, mas quero sair pela porta da frente. Estou agindo como político mineiro. Se me negarem agora, lá em março eles não têm como me fazer ficar no partido. Quero deixar claro: não fiquei inimigo de ninguém no Republicanos.”
Renzo Vasconcelos, novo best e avalista
Nas eleições municipais do ano passado, a entrada de Serginho na reta final da campanha de Renzo em Colatina foi decisiva para a vitória dele sobre o então prefeito, Guerino Balestrassi (MDB). O deputado e ex-prefeito conta que a boa relação entre eles remonta a outros carnavais. Renzo é o presidente estadual do PSD, cultiva ótima relação com Hartung e Kassab e é um dos avalistas da filiação de Serginho.
“Sempre tive relação boa com o Renzo. Fui colega dele na Câmara de Colatina por quatro anos. Tive problemas com gente da família dele, por causa do hospital [o filantrópico São José, pertencente à família Vasconcelos, em Colatina], mas não com ele. Em 2022, fui candidato a deputado estadual, e ele a federal. Discretamente, marchamos juntos em alguns municípios. No ano passado o apoiei, e ele sempre disse que, no PSD, poderei ser candidato a senador.”
A aproximação com Paulo Hartung: “Não puxa o tapete”
Escaldado, Serginho sabe que o tapete vermelho estendido hoje pode ser o tapete puxado sob seus pés amanhã. Ele também decidiu ir para o PSD por ter respeito e confiança em Paulo Hartung.
“Tem vários tapetes vermelhos me convidando. Mas o PSD é o que acho mais seguro, por confiar em Paulo Hartung, por ter respeito por ele e porque sei que Paulo Hartung não puxa o tapete, como sei que outros fazem e já estão fazendo.”
Ele diz ter conversado com Hartung e Kassab “ocasionalmente”.
“Esta semana fui ao gabinete do Renzo, e ele ligou para o Paulo Hartung. O ex-governador retornou em uma videochamada: ‘Serginho, estou aqui com o Kassab, e falamos em você’. Cumprimentei o Kassab, e ele me convidou para ir lá em São Paulo para conversar com ele. Disse que alguns prefeitos do estado de São Paulo falaram bem de mim para ele. Ficamos de marcar para eu ir lá em agosto. Eu vou lá. Hartung também me disse que quer me levar a São Paulo para me filiar lá no gabinete do Kassab.”
Segundo o deputado e ex-prefeito, Hartung lhe disse que gostaria que ele se filiasse agora ao PSD. Mas isso, como lembrado acima, depende da boa vontade do Republicanos.
“Paulo Hartung é estrategista, sabe montar tabuleiro político, tanto é que nunca perdeu uma eleição aqui. Renzo sempre me disse que eu posso ser candidato a senador pelo PSD. E Hartung passou a endossar isso. Ele tem me tratado com muito carinho. Quando lancei meu livro, ele foi pessoalmente ao lançamento, para me prestigiar.”
Disputa ao Senado: “Hartung me disse que não é candidato”
Hartung costuma ser lembrado como possível candidato ao Senado, pelo próprio PSD. Serginho diz não ver problema algum nessa hipótese, pois, segundo ele, como há duas vagas em disputa por estado, os dois poderiam ser lançados na mesma chapa do PSD. Um mesmo partido lançar dois candidatos ao Senado, na mesma chapa, é algo raríssimo, até porque estrategicamente pode ser um tiro no pé: em tese, um pode tirar votos do outro, e os dois podem morrer num abraço dos afogados. Mas, sim, realmente é possível. A legislação eleitoral o permite.
Uma chapa puro sangue do PSD ao Senado, com Hartung e Serginho concorrendo, não chega a ser inimaginável. Afinal, os dois têm perfis muito diferentes, falam a eleitorados diversos, cada eleitor poderá votar em dois candidatos a senador… Em todo caso, isso não deve ocorrer.
Em primeiro lugar, o próprio governador, em entrevista à coluna, já indicou não ter o menor interesse em se candidatar ao Senado. Em segundo lugar, de acordo com o próprio Serginho, Hartung chegou a lhe dizer que não é candidato a nada.
“Sim, conversamos sobre isso. Hartung me disse que não é candidato a nada. Ao mesmo tempo, ele pode ser candidato a governador ou a senador e eu ser candidato a senador junto com ele. Independentemente disso, quer dizer, se Hartung for candidato a senador ou não, meu propósito continua o de ser candidato a senador.”
Ainda sobre Hartung: “Vejo ele numa esfera nacional”
O gesto de Hartung e as palavras de Serginho reforçam que, mesmo podendo ser candidato a senador, o ex-governador está abrindo espaço para o deputado e priorizando a candidatura de Serginho ao Senado pelo PSD, com o apoio dele.
“O relacionamento do Renzo, do Paulo Hartung e do Kassab é o melhor possível. Sinto muita firmeza nisso. Vejo o PSD com muitas chances de eleger um candidato a senador e vejo que o nome sou eu. Não posso falar pelo Paulo Hartung, mas vejo ele numa esfera nacional, podendo até pleitear um ministério. Ele hoje está acima da política capixaba. Acho que ele não volta a ser candidato. E, se for, acho que seria a governador do Estado.”
O prognóstico da coluna é que, de fato, Hartung não será candidato a nada e se concentrará em ajudar o PSD na eleição presidencial.