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A título de resgate documental e registro jornalístico, republicamos aqui o que o prefeito de Vila Velha garantiu que faria se reeleito. E o que garantiu que não faria.
Esta coluna é um registro. Um registro importante e necessário.
No dia 20 de julho de 2024, em um evento muito concorrido no Centro de Convenções de Vila Velha, o prefeito Arnaldinho Borgo, então no Podemos, formalizou sua candidatura à reeleição, na convenção conjunta dos partidos de sua ampla coligação. Após a convenção, concedeu uma entrevista coletiva. Na ocasião, foi-lhe questionado o que todos queriam saber: ele por acaso assumia o compromisso de, se reeleito, concluir seu segundo mandato na Prefeitura de Vila Velha, ou poderia renunciar em 2026 para ser candidato a governador? O prefeito respondeu, de maneira taxativa:
“Não serei candidato em 2026. Isso está fora de questão”.
Arnaldinho ainda assumiu o compromisso de, em caso de reeleição, cumprir seu segundo mandato na prefeitura até o fim, em 31 de dezembro de 2028. “Eu sonhei muito para chegar aqui. E, por ter sonhado muito para chegar aqui, eu quero de fato entregar uma Vila Velha nova, uma Vila Velha com avanços significativos para a cidade.”
Ele desenvolveu:
“Não tenho intenção nenhuma de ser candidato em 2026. Estou focado em, até 2028, ser prefeito de Vila Velha, entregar o que nós planejamos em 2020 e o que estamos planejando agora de 2025 para 2028, deixar alguém em meu lugar após 2028 para que a cidade possa continuar caminhando rumo ao progresso, avançando cada dia mais nas políticas públicas e dando dignidade para as pessoas. É isso que eu quero”, afirmou o prefeito naquela oportunidade, fazendo questão de acrescentar:
“Além de não ser candidato, eu ajudarei quem for. O que eu posso afirmar para vocês é que eu estarei em algum projeto, ajudando a construir, para o Espírito Santo não cair em mãos de pessoas erradas”.
Já no dia 13 de setembro, em plena campanha eleitoral, Arnaldinho compareceu aos estúdios da Rede Capixaba (agora extinta). Ao vivo e em cores, foi entrevistado no programa Estúdio 360, por mim e pelos colegas Andressa Missio e Antonio Carlos Leite, na série de sabatinas que realizamos com os candidatos a prefeito de cidades da Grande Vitória.
Logo na abertura da entrevista, perguntei diretamente ao prefeito:
“O senhor já respondeu sobre isso no dia 20 de julho, depois da sua convenção aqui em Vila Velha, mas, para o nosso público maior que está em casa, eu lhe pergunto: o senhor assume publicamente o compromisso de, caso reeleito, cumprir de fato o seu segundo mandato até o fim, em dezembro de 2028, ou pode renunciar pela metade?”
Ele respondeu:
“Olha, como você já colocou, no dia 20, a gente já anunciou que nós não temos nenhuma intenção em ser candidato ao Governo do Estado em 2026. Meu maior sonho era virar prefeito de Vila Velha e isso aconteceu em 2020, quando fui eleito. Agora sou candidato à reeleição para que eu tenha uma oportunidade de ajudar Vila Velha a avançar, colocar Vila Velha como uma cidade próspera, Vila Velha protagonista do Espírito Santo e do Brasil, e é isso que vai acontecer se nós ganharmos a nossa eleição. Ficarei até dezembro de 2028 realizando o seu, o meu e todos os nossos sonhos de melhorias na nossa amada Vila Velha”.
Muitos políticos negam categoricamente um projeto eleitoral subsequente, durante o período de campanha, para não se complicar com os eleitores e não dar munição a adversários, mas, uma vez eleitos ou reeleitos, “esquecem o compromisso” ou “mudam de ideia”, diante de uma suposta “mudança de circunstâncias”. Alegam ter sido convocados pelo partido, ter ouvido a voz das ruas, não poder deixar de atender a um clamor da população… As justificativas variam. Quem acompanha a política atentamente sabe que essa rápida “adaptação” do discurso é bastante comum.
Justamente por isso, numa espécie de “réplica”, completei minha pergunta a Arnaldinho na referida entrevista:
“Bem rapidamente, prefeito, só para completar, porque nós que cobrimos e acompanhamos política há muito tempo estamos acostumados a ouvir coisas do tipo ‘ah mudei de ideia’, enfim… existe alguma chance de, no ano que vem [2025] ou no início de 2026, nós ouvirmos do senhor ‘ah, mudei de ideia, ouvi um clamor popular, um chamado das ruas, da população, voltei atrás para evitar um retrocesso’ ou algo desse tipo?
O prefeito reiterou sua negativa, peremptoriamente:
“Olha, não. Não sou candidato a governador em 2026, sou candidato a prefeito de Vila Velha, meu número é 20 e peço o voto de todos vocês que estão me assistindo”.
E a entrevista, então, tomou outro rumo.
A declaração do prefeito foi tão importante que assim titulamos, no Portal ES360, a transcrição integral da entrevista: “Arnaldinho volta a se comprometer em cumprir mandato até o fim”. No primeiro parágrafo, escrevemos aqui: “Na conversa, conduzida por Antonio Carlos Leite, Andressa Missio e Vitor Vogas, Arnaldinho destacou o compromisso em permanecer até o final do mandato, em 2028, se for reeleito”.
Passados cerca de nove meses, na última quarta-feira (11), em artigo publicado em A Gazeta e também enviado à coluna por sua assessoria de imprensa, Arnaldinho assumiu seu novo projeto eleitoral, declarou-se pré-candidato a governador e lançou as bases conceituais de sua pré-candidatura. Não há menção alguma ao que ele dissera e reiterara na campanha à reeleição. Tampouco se menciona o fato de que, para ser candidato a governador, ele terá de renunciar ao segundo mandato de prefeito com apenas um terço cumprido, em abril de 2026, passando o cargo para o vice-prefeito, Cael Linhalis (PSB).
Ao justificar sua decisão, o prefeito alega, basicamente – como queríamos demonstrar –, que tem sido encorajado pelos mais diversos atores, de variados segmentos sociais:
“No fim do ano passado, tive a honra de ser mencionado pelo governador Renato Casagrande como um dos possíveis nomes do nosso grupo para sucedê-lo em 2026. Em seguida, o governador ressaltou que os nomes por ele citados teriam o direito de buscar apoios na sociedade, visando viabilizar essa importante missão de governar os capixabas e impulsionar ainda mais o desenvolvimento sustentável do Espírito Santo. Desde então, tenho recebido lideranças de diversas esferas da sociedade civil: religiosos, empresários, profissionais liberais, líderes comunitários e sindicais, vereadores, prefeitos e parlamentares. Todos foram unânimes em me encorajar a colocar meu nome como pré-candidato a governador”.
Como dito no início, esta publicação nada mais é que um registro.
O prefeito de Vila Velha tem pleno direito e legitimidade para, se assim quiser, interromper seu mandato e ser candidato a governador. Digo mais: é certamente competitivo e, se mantiver o plano até o fim e conseguir botar de pé a candidatura, terá chances reais de chegar ao Palácio Anchieta.
Masssssss…
Não foi o que ele disse na campanha pela reeleição.
