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O caminho de Arnaldinho (até aqui) para ser candidato a governador

Por Vitor Vogas / ES 360 / Foto: Divulgação

Prefeito de Vila Velha é explícito e enfático quanto às próprias pretensões eleitorais, pois já chegou a anunciar que quer ser candidato ao governo até em dois artigos publicados por ele

O prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, é pré-candidatíssimo a governador do Espírito Santo. Ele é pré-candidato declarado, eu diria que de maneira até mais explícita que o vice-governador Ricardo Ferraço

No momento, nós temos três pré-candidaturas muito fortemente estabelecidas para o Governo do Estado em 2026: a do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, considerado adversário do governo Casagrande; e a de dois aliados do governador Renato Casagrande, que disputam entre si justamente a condição de candidato oficial do governo: o vice Ricardo Ferraço e o prefeito Arnaldinho.

Desses três, Pazolini tem uma grande diferença, além do fato de não ser aliado do governo: ele não fala sobre eleição. Todo mundo sabe que ele é pré-candidato; o partido dele, Republicanos, confirma que ele é pré-candidato e o trata dessa maneira; todos os movimentos do prefeito também gritam que ele é candidato, das andanças pelo interior do Estado aos slogans nas camisetas, mas o próprio Pazolini jamais declarou publicamente a pré-candidatura ao governo. Ponto.

No caso de Ricardo e Arnaldinho, é exatamente o contrário. Ricardo anunciou que é pré-candidato, em primeira mão, em janeiro, numa entrevista exclusiva publicada por esta coluna no Portal ES360. Na ocasião, Ricardo disse: “Estou pronto e preparado para ser governador”. Desde então, ele tem se movimentado abertamente, à luz do dia, como pré-candidato.

E quanto a Arnaldinho? O prefeito de Vila Velha foi ainda mais explícito e enfático quanto às próprias pretensões eleitorais, pois já chegou a anunciar que quer ser candidato ao governo até em dois artigos assinados por ele e publicados pela imprensa local.

No primeiro artigo, publicado em junho no site A Gazeta e nas redes sociais do prefeito, ele lançou as bases da sua pré-candidatura. A tese de Arnaldinho, da qual ele está convencido, é que, encerrado o ciclo de Casagrande no poder, o eleitorado capixaba anseia por um próximo governador que represente uma nova geração de políticos, comprometidos com a boa gestão pública e conservadores nos valores. O subtexto é: como ele mesmo.

No segundo artigo, repleto de analogias futebolísticas, ele escreveu que, como um time grande, está a disputar duas competições simultâneas: a primeira é continuar administrando Vila Velha; a segunda é a pré-campanha que, segundo ele, o prepara para ser candidato ao governo do Espírito Santo. Segundo Arnaldinho, “é jogo grande, de 90 minutos, com prorrogação e, se for preciso, disputa de pênaltis”.

O projeto eleitoral de Arnaldinho também está lastreado em declarações dadas de público pelo próprio governador Renato Casagrande.

Em várias entrevistas, desde o fim do ano passado, o chefe do Executivo Estadual deu listas de aliados políticos que, no seu entendimento, podem representar o governo na disputa pela sua sucessão. Arnaldinho até agora compareceu em todas as listas do governador.

Na primeira delas, ditada por Casagrande no fim do ano passado, o governador citou Ricardo como seu sucessor natural, mas disse que não poderíamos descartar aliados como Arnaldinho, Sérgio Vidigal (PDT) e Euclério Sampaio (MDB).

Depois, no começo do ano, Casagrande ampliou um pouco essa lista, incluindo dois deputados federais que também são membros importantes do grupo político dele: Gilson Daniel e Josias da Vitória, presidentes estaduais, respectivamente, do Podemos e do Progressistas (PP).

Aí, na lista mais recente, de meados de julho, Casagrande enxugou a relação para três nomes. Segundo o governador, os únicos que ainda tratam com ele sobre candidatura ao governo são Ricardo, Da Vitória e… Arnaldinho Borgo.

O prefeito de Vila Velha, assim, se sente legitimado pelas falas do próprio Casagrande. O governador não esconde mais de ninguém que seu plano A é lançar e apoiar Ricardo, mais Arnaldinho entende que o governador deu a ele a liberdade para tentar se viabilizar, e lá na frente, com base em pesquisas, eles vão se sentar e decidir em conjunto quem será o candidato. Essa é a expectativa do prefeito.

Quais são os grandes trunfos de Arnaldinho, as vantagens que ele possui nesse duelo íntimo com Ricardo? Aliás, é curioso notar que, quando comparamos os dois, as qualidades que sobram em um parecem faltar no outro, e vice-versa. Os dois se complementam e, se fundidos num homem só, talvez dessem um candidato imbatível.

O primeiro ativo de Arnaldinho é sua juventude, combinada com seu inegável carisma e a expressiva popularidade alcançada pelo prefeito de Vila Velha. Seus índices de aprovação são muito altos, o que se refletiu no resultado eleitoral maiúsculo obtido por ele nas eleições municipais do ano passado.

Arnaldinho se reelegeu com uma votação acachapante. Foram quase 80% dos votos válidos no segundo maior colégio eleitoral do Espírito Santo. Em termos percentuais, o campeão capixaba foi o prefeito de Viana, Wanderson Bueno (Podemos), com mais de 90%. Em Cariacica, Euclério Sampaio obteve perto disso. Mas, em números absolutos, ninguém em 2024 obteve mais votos nominais do que Arnaldinho no Estado. Isso conferiu a ele um capital político considerável, que o projeta para um voo maior.

Agora, quais são os pontos fracos de Arnaldinho? Em primeiro lugar, ao contrário de Ricardo, ele não tem quase nenhum recall no interior do Estado. Em segundo lugar, ao contrário do vice-governador, ele não tem quase inserção alguma junto ao meio empresarial capixaba. Por último e mais importante: ao contrário de Ricardo, Arnaldinho não tem influência alguma sobre a máquina pública estadual nem uma coalizão de forças partidárias jogando a seu favor. Aliás, Arnaldinho, neste momento, simplesmente não tem partido político.

E vamos lembrar aqui uma regra básica de qualquer eleição neste país: a legislação eleitoral brasileira não admite candidatura avulsa. Para você ser candidato, você precisa estar filiado a algum partido político até abril do ano que vem.

Arnaldinho elegeu-se e reelegeu-se prefeito de Vila Velha, partido comandado no Espírito Santo pelo deputado Gilson Daniel. Os dois vinham se desentendendo há muito tempo, Arnaldinho não tinha controle sobre a sigla, não tinha certeza de que Gilson lhe daria a legenda para concorrer e não queria mais ficar subordinado a ele. O que fez, então, o prefeito? Tentou tomar o partido de Gilson, numa articulação direta com a direção nacional do Podemos. Não deu certo. Em março, então, o prefeito decidiu se desfiliar.

Foi um movimento temerário por parte do prefeito. Foi como um salto no escuro, mas ele foi mesmo para o risco. Arnaldinho sonhava em ir para um partido que atendesse a dois pré-requisitos: que tivesse um bom porte para sustentar sua candidatura ao Governo do Estado, política e financeiramente; e que ele mesmo pudesse comandar no ES. Mas esse ideal prontamente se mostrou inalcançável porque, vejam, o quadro partidário brasileiro está ficando muito enxuto, os partidos estão fazendo fusões, federações, alguns estão sumindo do mapa, em suma, não tem mais partido sobrando na praça…

De maneira meio atabalhoada, o prefeito chegou e ensaiar um movimento de tomada do comando do PSD, Partido Social Democrático, no Espírito Santo, em meados de maio. Mas foi um movimento desastrado, no mínimo precipitado, em que o prefeito se mostrou um pouco afoito. Ele foi pessoalmente a São Paulo ao encontro do presidente nacional da sigla, Gilberto Kassab, e voltou dizendo que já entraria no partido controlando a presidência estadual. Isso sem ter combinado com o atual presidente estadual do PSD, que é o prefeito de Colatina, Renzo Vasconcelos. Ficou evidente que se tratava de um movimento de atropelo político, e não pegou nada bem…

Não pegou bem principalmente no Palácio Anchieta, porque o PSD é nada menos que o novo partido do ex-governador Paulo Hartung, filiado oficialmente no fim de maio. Hartung é ninguém menos que o maior adversário de Casagrande. O governador não gostou nada dessa articulação de Arnaldinho, vendo nela a impressão digital do seu maior rival. Chamou Arnaldinho e deu uma enquadrada nele, dizendo que ele pode, sim, se movimentar livremente, desde que dentro do seu campo de aliados.

A preocupação do governo Casagrande era que Arnaldinho pudesse se lançar ao governo por fora da coalizão governista, ou seja, como adversário de Ricardo Ferraço.

No fim de julho, Arnaldinho, Ricardo e Casagrande conversaram a portas fechadas e acertaram os ponteiros. Arnaldinho declarou que eles com certeza estarão juntos, isto é, no mesmo palanque, nas eleições do ano que vem. Excluiu, assim, qualquer chance de ele ser candidato sem o apoio de Casagrande e de se tornar adversário de Ricardo. Mas a questão, então, continuou: qual dos dois vencerá essa corrida e será o candidato do governo?

Nas últimas semanas, Ricardo se consolidou como o favorito, o dono da preferência declarada de Casagrande, deixando Arnaldinho alguns metros atrás nessa maratona particular. Querem um exemplo disso? Dos outros nomes daquela lista de Casagrande que chegou a seis possíveis candidatos no início do ano, três já declararam apoio a Ricardo e estão na pré-campanha dele: Euclério, Vidigal e Gilson Daniel. Só Da Vitória e Arnaldinho seguem correndo por fora.

O prefeito, então, precisava urgentemente reagir, para mostrar que segue vivo no páreo. Foi nesse contexto que ele publicou o já citado segundo artigo, aquele da metáfora com o futebol, emblematicamente intitulado “Seguimos no jogo”.

E aí, no dia 27 de agosto, a reação veio em dobro. Num giro por Brasília, o prefeito de Vila Velha garantiu o apoio nacional de uma federação que será formada por dois pequenos partidos: o Solidariedade, de Paulinho da Força, e o Partido Renovação Democrática (PRD). Os respectivos dirigentes nacionais franquearam apoio a Arnaldinho. Em troca, o prefeito se comprometeu a ajudar essa pequena federação a montar no ES uma chapa minimamente competitiva para a Câmara dos Deputados, a fim de ajudá-la a superar a cláusula de barreira.

No mesmo dia, em Brasília, Arnaldinho teve uma reunião decisiva com o deputado Da Vitória, na qual ficou, se não selada, muito bem encaminhada a filiação do prefeito ao Progressistas (o PP). O partido já anunciou que formará uma federação, essa sim gigantesca, com o União Brasil, a chamada União Progressista. Da Vitória não só é o atual presidente do PP como será o presidente dessa superfederação no Espírito Santo. No Instagram, Arnaldinho afirmou:

“Estou muito animado em unir forças para que num futuro próximo possamos fazer o Espírito Santo avançar ainda mais”.

Em conversa com a coluna, Da Vitória afirmou que Arnaldinho entra no PP por cima e poderá ser candidato ao que ele quiser, de senador a governador.

Em se confirmando essa filiação, a grande vantagem para Arnaldinho é que ele fortalece sua posição no tabuleiro, se recoloca para valer no jogo eleitoral. Como possível candidato a governador pela federação que terá o maior Fundo Eleitoral para financiamento de campanha e o maior tempo de propaganda no rádio e na TV, o prefeito terá assento obrigatório à mesa de negociação com Ricardo e Casagrande, e qualquer decisão terá de levar em conta as aspirações do prefeito. Ele não poderá ser ignorado.

Por outro lado, Arnaldinho também assume um grande risco. Entrando mesmo no PP, ele estará atrelado a uma federação sobre a qual não terá o menor controle. Na real, não há nenhuma garantia de que ele terá mesmo a legenda para concorrer ao governo. O presidente estadual da federação será Da Vitória, que, vale lembrar, também tem interesse em ser candidato a governador ou senador. Se só couber um deles na chapa majoritária do Palácio Anchieta, qual dos dois terá a prioridade? Arnaldinho coloca o seu destino nas mãos de Da Vitória.

Outro ponto é que o PP de Da Vitória também conversa muito bem com Pazolini, e um cavalo de pau para apoiar o prefeito de Vitória não pode ser de todo descartado… Eis o risco para Arnaldinho.

O caminho de Arnaldinho (até aqui) para ser candidato a governador

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