Por Thauane Lima / ES HOJE / Fotos: Divulgação
Pela primeira vez na série histórica o número de mortes no trânsito superou o de homicídios dolosos no Espírito Santo: foram 984 óbitos no trânsito, contra 852 homicídios. O dado chama ainda mais atenção pelo fato de 52% das vítimas serem motociclistas. Os dados foram divulgados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-ES).
As principais causas de mortes entre motociclistas foram colisões com carros, que totalizaram 159 casos, seguidas por quedas de moto (118 óbitos). Também houve registros de colisões com caminhões (77), ônibus (26), objetos fixos (73) e até mesmo colisões entre duas motos, que resultaram em 42 mortes. Além disso, 12 acidentes fatais envolveram motos e animais.
Os dados preliminares de 2025 intensificam a preocupação com a letalidade no trânsito. De janeiro a abril deste ano, foram registrados 14.090 sinistros, dos quais 11.613 sem vítimas, 217 com vítimas parciais e 260 mortes — número considerado alarmante para um período tão curto.
Diante desse cenário, o governo do Estado, em parceria com o Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo (Detran/ES), decidiu unir forças e integrar os órgãos de segurança pública e viária para enfrentar o problema. Foi criado o Comitê Integrado de Preservação da Vida no Trânsito, que reúne representantes de esferas municipais, estaduais e federais, além de entidades ligadas à fiscalização, saúde e educação.
O comitê foi inspirado no modelo de governança do programa Estado Presente em Defesa da Vida, estruturado com base nas RISP (Regiões Integradas de Segurança Pública) e AISP (Áreas Integradas de Segurança Pública). Essa estrutura permitiu a redução significativa das mortes violentas no estado nos últimos anos. Agora, diante da inversão nos dados — com o trânsito ultrapassando os homicídios como principal causa de morte violenta —, a meta é aplicar a mesma estratégia de integração para salvar vidas nas vias capixabas.
O advogado especialista em Direito de Trânsito e Diretor Institucional do Instituto Brasileiro de Direito de Trânsito (IBDTRANSITO), Everson Vieira de Souza, destaca a urgência em reforçar a segurança dos motociclistas: “Quando falamos em segurança viária com ênfase em motocicletas, é imprescindível refletir sobre os equipamentos de segurança, previsto no art. 54 do CTB, que vão desde a utilização do capacete de segurança com viseiras ou óculos protetores, segurar guidom com as duas mãos; usar vestuário de proteção conforme previsto pelo Contran.”
Souza também alerta para a necessidade de seguir rigorosamente as normas de circulação:
“Outra observação fundamental: é se atentar para as regras de circulação e condutas, e evitar a prática dos tipos infracionais previstos no art. 244 do CTB, infrações que podem até gerar a suspensão da CNH.”
Ele chama atenção para a alta frequência de sinistros envolvendo motos no estado:
“É fundamental uma consciência de pilotagem segura. Recentemente o Detran/ES publicou que somente no ES temos uma média de aproximadamente 60 sinistros por dia envolvendo motocicletas”.
Monitoramento
Em resposta ao agravamento da situação, o governo estadual instituiu o monitoramento diário das mortes no trânsito, por meio de um grupo de trabalho coordenado pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp). A atuação integrada das forças de fiscalização foi reforçada sob comando do Detran|ES.
“Estamos fortalecendo as ações de prevenção, criando uma metodologia de trabalho a partir de agora. Reforçando a integração e articulação entre vários órgãos no modelo do Programa Estado Presente. Todos os meses teremos apresentação dos dados de acidentes e mortes no trânsito. Assim como temos o mapa do crime que orienta nossas forças de segurança, teremos um mapa dos acidentes fatais e, se precisar, faremos fiscalizações mais intensas ou intervenções de infraestrutura nas vias. Queremos reduzir o número de acidentes e, consequentemente, diminuir as mortes no trânsito”, afirmou o governador do Estado, Renato Casagrande.
O Comitê Integrado de Preservação da Vida no Trânsito terá como função planejar, executar, discutir, propor e monitorar ações integradas de fiscalização e educação no trânsito em todo o Espírito Santo. Essas ações serão coordenadas dentro da estratégia “Operação Força pela Vida”, focada em quatro eixos principais:
- Operações integradas de trânsito;
- Comunicação social e educação no trânsito;
- Produção de dados estatísticos e gestão do conhecimento;
- Melhoria da infraestrutura viária
Além de reduzir o número de sinistros e de crimes relacionados ao trânsito, o Comitê visa conscientizar e proteger todos os usuários das vias, inclusive pedestres e ciclistas, além de reforçar o cumprimento do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
O diretor-geral do Detran/ES, Givaldo Vieira, destacou a gravidade da situação: “No ano passado, infelizmente, pela primeira vez, vivenciamos no Estado mais mortos em sinistros de trânsito do que por homicídios. Diante disso, aumentamos o nosso empenho e estamos criando este Comitê como um esforço conjunto das forças de segurança para reverter este quadro e preservar as vidas dos capixabas.”
O secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, Leonardo Damasceno, reforçou o compromisso: “Desde o começo do ano estamos com foco total em ações para reduzir as mortes e acidentes graves nas vias do Espírito Santo. Desde que os números começaram a subir, o governador Renato Casagrande nos orientou a traçar estratégias para impedir essa escalada. Agora temos esse comitê que busca centralizar a atuação e ações que irão ocorrer. Nossas forças de segurança estão sempre à disposição para enfrentar o problema e salvar vidas no Espírito Santo.”
Força pela Vida
As operações integradas “Força pela Vida” envolvem diversos órgãos de segurança e trânsito, com o objetivo de implementar uma metodologia coordenada de fiscalização e educação viária, tanto em áreas urbanas quanto rurais e rodovias estaduais.
As blitzes educativas e repressivas têm como foco coibir infrações e crimes de trânsito, promover o conhecimento estatístico e técnico, além de influenciar positivamente os comportamentos de motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres.