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Governo do ES terá apoio emergencial a produtores afetados por tarifas dos EUA

Por Edu Kopernick / FOLHA VITÓRIA / Foto: Divulgação

Na primeira reunião do comitê criado para acompanhar os impactos das tarifas dos Estados Unidos a produtos capixabas, vice-governador afirmou que preocupação imediata é com arranjos que mais terão impacto

“Nossa missão, neste momento, é ajudar os empreendedores capixabas para evitar desemprego e colapso nas cadeias produtivas familiares”. Essa foi a afirmação do vice-governador Ricardo Ferraço na primeira reunião do comitê estadual criado para acompanhar os impactos das tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos a produtos capixabas.

Durante o encontro, Ferraço anunciou que o governo do Espírito Santo poderá lançar linhas emergenciais de crédito, com recursos do Tesouro Estadual, para garantir liquidez aos produtores afetados. “Vamos acenar com a possibilidade de operação de crédito com prazo, carência e condições compatíveis com a realidade dos pequenos empreendedores”, explicou.

Porém, Ferraço não falou o valor que o Estado vai oferecer a produtores bem como a setores afetados. “Primeiro precisamos entender cada caso para então traçarmos a linha de ação.

A medida valerá especialmente para setores de base familiar, como mamão, gengibre, pimenta-do-reino e pescado. Ou seja, segundo ele, esses setores “não conseguem redirecionar sua produção de um mercado para outro com rapidez”.

A reunião foi a primeira ação prática do comitê estadual, formado pelo governador Renato Casagrande após a decisão do presidente americano Donald Trump de aplicar tarifas extras sobre 382 produtos brasileiros. Ou seja, o objetivo do comitê é ouvir os setores diretamente impactados bem como estruturar respostas rápidas, tanto de apoio emergencial como de articulação política junto ao governo federal.

Nesta primeira rodada, o diálogo foi com representantes do agronegócio. Nesse sentido, o setor é responsável por cerca de 35% das exportações capixabas e mais de 400 mil empregos diretos e indiretos no Espírito Santo.

“Estamos ouvindo, caso a caso, com paciência e sensibilidade. Ou seja, cada segmento tem uma característica diferente, e o que nos preocupa é o impacto no emprego e na renda das pessoas”, disse Ferraço. Segundo ele, o governador Casagrande já iniciou articulações com o vice-presidente Geraldo Alckmin e o Ministério da Indústria e Comércio Exterior para buscar saídas diplomáticas. Porém, ele reforçou que o foco do Estado será a resposta emergencial: “Enquanto a solução federal não vem, precisamos estar preparados para agir”.

Café: diálogo direto com importadores americanos

O setor cafeeiro, que representa 16% das exportações brasileiras aos EUA, está em alerta. “O café brasileiro é essencial para o paladar americano. Para cada dólar que exportamos, geramos US$ 43 para a economia dos EUA”, afirmou Márcio Ferreira, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Segundo ele, há conversas com gigantes do setor americano para evitar que a tarifa de 50% se concretize.

Ferreira explicou que o café é cotado em bolsa internacional, e a tarifa pode derrubar os preços e prejudicar toda a cadeia produtiva.

“Estamos 30% mais caros que o Vietnã por causa das tarifas. Isso impacta o produtor brasileiro diretamente”, afirmou. Ele também chamou atenção para a necessidade de o governo brasileiro negociar com países do BRICS e da Ásia, que já aplicam tarifas maiores que os EUA sobre o café solúvel brasileiro. “Precisamos agir de forma técnica e profissional, sem ideologia, para proteger nosso mercado”, concluiu.

“O café não concorre com o agro americano, e é a bebida mais consumida por democratas e republicanos. Isso pode pesar na decisão.” Márcio Ferreira, presidente do Cecafé

Mamão: tarifas atingem 100% das exportações

Entre os mais afetados, o setor de mamão expôs um impacto direto e imediato. “O Espírito Santo é responsável por 100% do mamão exportado aos EUA. Qualquer tarifa extra incide totalmente sobre nós”, alertou José Roberto Macedo Fontes, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya. Segundo ele, não é possível redirecionar a produção para a Europa por causa de barreiras sanitárias. “Se colocarmos essa fruta no mercado interno, os preços despencam e o prejuízo é imediato”, afirmou.

Fontes também criticou entraves burocráticos impostos por normas do Ministério da Agricultura. “Temos que cumprir mais exigências para vender aos EUA do que para a Europa, mesmo sem nenhum histórico de pragas desde os anos 1990”, disse. Ele acrescenta que a Costa Rica, que aprendeu com o modelo capixaba, hoje concorre com custos menores. “Se recuarmos agora, será difícil reconquistar espaço”, alertou.

Gengibre: 3.500 famílias ameaçadas pelas tarifas

Responsável por até 90% do gengibre exportado no Brasil, o Espírito Santo tem na cultura uma importante fonte de renda para famílias do interior. “O impacto é muito grave para 3.500 famílias de Santa Maria, Santa Leopoldina e Domingos Martins”, afirmou Rafael Cola, representante dos produtores capixabas de gengibre. Segundo ele, o mercado interno não absorve o produto. “A gente vai continuar exportando, mas com preço até 40% abaixo do custo. Isso pode inviabilizar a lavoura para muitos produtores”, disse.

Cola afirmou que há tentativas de ampliar mercados como para a China, porém os resultados não são imediatos. “É um trabalho que leva tempo, contudo o impacto é agora. As famílias não têm como segurar meses esperando por novos acordos”, explicou. Para ele, o apoio do governo precisa ser emergencial.

“Na roça, o produtor não consegue segurar o prejuízo por muito tempo.” Rafael Cola, representante dos produtores de gengibre

Pescado: exportações podem acabar com tarifa de 50%

No setor pesqueiro, a estimativa é de paralisação total das exportações. “Com uma tarifa de 50%, zeramos completamente as exportações para os EUA”, declarou Luiz Gonzaga de Almeida Neto, presidente do Sindicato das Indústrias e Armadores de Pescado do Espírito Santo. Segundo ele, cerca de mil pescadores da região sul do estado estão em risco. “Já há barcos que não vão sair ao mar porque não têm para onde vender”, afirmou.

O mercado europeu, segundo Gonzaga, é inacessível no momento. “As barreiras sanitárias da Europa nos impedem de atuar lá. E vender no mercado interno com os preços atuais inviabiliza a operação das embarcações”, explicou. O prejuízo estimado em caso de paralisação pode chegar a R$ 120 milhões por ano. “É uma cadeia econômica que pode colapsar em semanas”, alertou.

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