Por Mary Martins / ES HOJE / Foto: Rodrigo Zaca (Governo ES)
Em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira(10), o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), criticou duramente a carta enviada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anunciando a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras a partir do dia 1º de agosto.
Casagrande afirmou que o momento exige “cautela e responsabilidade” e adiantou que o assunto será levado diretamente ao presidente Lula, que visita o Estado nesta sexta-feira (11).
“Amanhã conversarei com o presidente, porque até então, a vinda dele está confirmada. Nós não podemos entrar no jogo do presidente Trump nesta guerra de tarifas. O governo federal tem que ter cautela. Temos que ouvir os setores produtivos e buscar, sim, alternativas”, afirmou Casagrande.
O governador destacou que o Espírito Santo será um dos estados mais afetados com a medida, principalmente nos setores de rochas ornamentais, café, siderurgia, petróleo cru e exportações de produtos agrícolas como pimenta-do-reino, gengibre e macadâmia.
“Nós temos um impacto forte nas pedras ornamentais, no café, na siderurgia e em produtos como a pimenta-do-reino e o gengibre. Isso afeta diretamente o mercado capixaba, mas também pode encarecer o produto americano. A balança comercial, inclusive, é favorável aos Estados Unidos”, frisou Casagrande.
Dados do comércio bilateral mostram que os EUA têm superávit de US$ 200 milhões com o Brasil, em um volume de negócios que gira em torno de US$ 80 bilhões por ano. Para o governador, isso desmonta o argumento de Trump de que a relação comercial com o Brasil seria injusta.
Guerra econômica e plano B
Casagrande revelou que conversou com lideranças empresariais e industriais preocupadas com os efeitos da nova tarifação e recomendou prudência nos investimentos.
“Agora nós temos que colocar um pé no freio, ter muita cautela. Estamos enfrentando uma guerra bélica e agora, uma guerra econômica. Isso pode atingir diretamente a renda dos brasileiros e a receita do Estado do Espírito Santo”, alertou o governador.
Ele também defendeu a diversificação dos parceiros comerciais como resposta estratégica a médio e longo prazo: “Penso em buscar outros parceiros comerciais, como China e Europa, para não ficarmos tão dependentes dos Estados Unidos, mas precisamos de uma decisão para os próximos dias”.
Com a vinda do presidente Lula ao Espírito Santo marcada para esta sexta-feira (11), Casagrande adiantou que aproveitará o momento para tratar pessoalmente do tema e reforçar a necessidade de resposta rápida por parte do governo federal.
“A nossa conversa agora é com o governo federal. O presidente Lula vai estar aqui amanhã. Vamos conversar sobre isso, discutir qual a melhor medida. Precisamos de uma ação de urgência para o dia 1º de agosto”, declarou.
O governador também se mostrou preocupado com o envolvimento de atores políticos brasileiros na construção da decisão de Trump, citando o deputado Eduardo Bolsonaro, que está nos EUA.
“O nível de envolvimento de grupos políticos brasileiros numa decisão como essa pode prejudicar toda uma nação. O Brasil é o único país taxado com esse percentual. Isso é grave”, afirmou.
Apesar de mencionar a possibilidade de o Brasil adotar uma medida de reciprocidade, Casagrande ponderou que o momento exige paciência.
“A lei de reciprocidade pode ou não ser usada, mas considero que o presidente Lula deve agir com muita paciência e ouvir os setores produtivos. Não podemos tomar decisões precipitadas que agravem ainda mais a situação”, alertou.
Para ele, a melhor saída ainda pode vir da diplomacia: “Espero que alguma negociação seja feita nos próximos dias para que essa decisão possa ser repensada. Ainda é cedo para darmos notícias ruins à população, mas precisamos estar preparados”, concluiu.
A carta de Trump veio à tona após troca de farpas entre os dois presidentes por conta da realização da cúpula do Brics no Rio de Janeiro. No documento, Trump acusa o Brasil de violar a liberdade de expressão de americanos e de perseguir o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente réu no STF. O presidente norte-americano ameaça impor sanções ainda mais severas caso o Brasil decida retaliar, e determinou a abertura de investigações sobre as “atividades comerciais digitais” de empresas americanas no país.
O governo federal ainda não se manifestou oficialmente sobre a carta. A expectativa é que Lula aborde o tema em sua passagem pelo Espírito Santo nesta sexta-feira (11).