Por Vitor Vogas / ES 360 / Foto: Divulgação
Após receber do ex-parceiro uma porta fechada em 2024, ex-presidente da Câmara quer abrir portas para a campanha de Pazolini em Vila Velha em 2026
O ex-vereador Bruno Lorenzutti presidiu a Câmara de Vila Velha de 2021 a 2024, durante todo o primeiro mandato do prefeito Arnaldinho Borgo. Até agosto do ano passado, poderia ser considerado seguramente, se não o principal, um dos principais aliados do prefeito. Em 2020, ajudou o então colega de Câmara a se filiar ao Podemos e foi importante em sua campanha para chegar à Prefeitura de Vila Velha. À frente da Casa de Leis, colaborou com a gestão de Arnaldinho. Os dois eram sempre vistos juntos em solenidades públicas. Mas a última eleição municipal os separou.
Adversário do governo Casagrande (PSB), Pazolini é pré-candidato a governador do Espírito Santo. Aliado de Casagrande, Arnaldinho também o é – embora o pré-candidato do governador e de sua gestão seja o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). Pazolini e Arnaldinho, portanto, são potenciais concorrentes ao mesmo cargo em 2026. Nessa disputa, Bruno Lorenzutti já escolheu seu lado.
À coluna, ele garante: fará tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar o prefeito de Vitória a se eleger governador. Para isso, pretende exercer um papel que, hoje, o grupo político de Pazolini não tem ninguém que cumpra por ele: o de “abrir portas”, para o prefeito de Vitória, no território canela-verde.
“Vou ajudar a construir a candidatura de Pazolini em Vila Velha. Onde eu puder abrir portas para ele, eu vou fazer.”
Hoje, de fato, o grupo de Pazolini, coordenado por Erick Musso e concentrado no Republicanos, carece de um aliado com expressão política no município governado por Arnaldinho. O partido, aliás, está na base do prefeito de Vila Velha. Tem um vereador na cidade, o pastor licenciado Devanir Ferreira, que é não só aliado de Arnaldinho como o líder dele na Câmara. Também há um deputado estadual do Republicanos com votos na cidade: o médico Hudson Leal. Mas este já declarou que, onde Pazolini estiver, ele estará do lado oposto.
Assim, Bruno Lorenzutti chega ao Republicanos determinado a preencher esse vazio, em prol do “Projeto Pazolini”. Definindo-se como um “ajudador”, pretende operar como um facilitador e um cabo eleitoral para o prefeito de Vitória – atenção: nos domínios políticos de Arnaldinho. Como? Não só pedindo votos para Pazolini, mas fazendo a mediação entre ele e líderes políticos e religiosos do seu lado da Baía de Vitória.
Bruno declara-se pré-candidato a deputado estadual pelo Republicanos. Fará campanha casada com a de Pazolini para governador – isto, é claro, se o prefeito de Vitória realmente concorrer, mas cada vez restam menos dúvidas com relação a este ponto.
“Hoje o Pazolini não tem um grande líder para chamar de seu em Vila Velha. Não que eu seja um grande líder. Com muita humildade, digo que sou só um ‘ajudador’ de projetos coletivo. Chego para ajudar a abrir portas para Pazolini em Vila Velha. Meu objetivo é, sim, ajudar a pavimentar a candidatura de Pazolini na cidade, levando meu grupo a apoiá-lo, conversando com lideranças políticas e religiosas. Farei campanha casada com ele. Onde eu abrir portas para mim, o Pazolini estará também. Sou somente um ser político na cidade. Sei do meu tamanho. Mas farei minha parte para ajudá-lo em Vila Velha.”
No horizonte, a disputa pela Prefeitura de Vila Velha em 2028
Bruno revela que chega ao Republicanos olhando além de 2026. Essa é só a primeira missão. Ele quer participar da construção de um projeto político maior, com altas ambições, “de médio e longo prazo”, segundo ele mesmo. O “médio prazo”, claro está, é sua própria candidatura a deputado estadual e a de Pazolini a governador. No “longo prazo”, as eleições municipais seguintes, em 2028.
O ex-aliado de Arnaldinho afirma, sem titubear, que quer participar da construção de um projeto de chegada à Prefeitura de Vila Velha em 2028. Não necessariamente com ele mesmo no papel de candidato. Mas ele quer ajudar esse mesmo grupo, o de Erick Musso e Pazolini, a chegar lá.
“No médio prazo, sou candidato a deputado estadual. No longo prazo, vou discutir a política de Vila Velha. Ainda não sou candidato a nada no longo prazo, pois ainda há desafios a serem cumpridos. Mas também quero discutir a política de Vila Velha no longo prazo. E vejo esse caminhar com o prefeito Pazolini e o Erick Musso no Republicanos.”
O ex-vereador não descarta ser ele mesmo o candidato, mas reforça que o principal, para ele, é a construção de um “novo movimento”:
“Tudo na política é possível. O que posso te afirmar é que estarei muito ativo na construção de um grupo político para disputar a Prefeitura de Vila Velha em 2028, sendo ou não sendo candidato. Estarei construindo um projeto político para ofertar à população de Vila Velha. Quero estar nesse novo movimento. Em 2028, a cidade precisa ter alternativas”.
Se ele mesmo se tornar deputado estadual em 2026, é claro que esse plano ganhará força. Mais ainda se Pazolini chegar ao Palácio Anchieta.
A aposta deles é na inauguração de uma nova fase política em Vila Velha, em 2028, com a disputa de poder em aberto, seja qual for a decisão de Arnaldinho no ano que vem: se ele não renunciar para concorrer a governador, cumprindo o atual mandato até o fim, sua passagem pela prefeitura fatalmente terminará em 2028; se ele renunciar, quem assumirá o cargo será seu vice, Cael Linhalis.
Logicamente, uma vez investido de poder, Cael poderá crescer do ponto de vista político e pleitear a reeleição em 2028. Mas hoje ele tem pouco expressividade política, por ser neófito no ramo e não ter raízes na cidade. Isso pode dificultar sua eventual tentativa de reeleição.
O comando do Republicanos em Vila Velha
O atual presidente do Republicanos em Vila Velha é o vereador Devanir Ferreira, já citado aqui. Bruno diz que não entra no partido com a intenção de assumir a presidência e que sua conversa com Erick Musso, presidente estadual da sigla, nem sequer passou por isso. Acrescenta que pretende cumprir o papel assumido por ele independentemente de cargo na estrutura partidária. “Não vejo necessidade.”
Atualmente licenciado do cargo efetivo ocupado – segundo ele, por motivos médicos –, o ex-presidente da Câmara é fiscal de posturas da Prefeitura de Vila Velha. Apesar do apoio a Pazolini, não pretende assumir cargo algum na Prefeitura de Vitória, por entender que já está perto demais dos prazos de desincompatibilização impostos pela legislação eleitoral para quem vai disputar mandatos no ano que vem.
A desistência de voltar para o Podemos: “Ferraço não é o projeto em que acredito”
Antes de passar para o MDB e, agora, para o Republicanos, Bruno foi vereador de Vila Velha pelo Podemos, sigla pela qual exerceu seus dois mandatos, entre 2017 e 2024. Diferentemente de Arnaldinho, mantém excelente relação política com o presidente estadual da legenda, Gilson Daniel.
Até o começo do ano, ele chegou a cogitar voltar para o partido de origem. Desistiu, segundo ele, por conta da decisão do deputado federal de levar o Podemos para a pré-candidatura de Ricardo Ferraço ao governo. Passou a intensificar, então, as conversas com Erick e Pazolini.
“Meu desejo era voltar para o Podemos, meu partido de origem, e construir no Podemos minha candidatura a deputado estadual. O problema é que, ao longo desse percurso, o Podemos sinalizou que vai apoiar o candidato do governo, Ricardo Ferraço, então haveria uma incompatibilidade. Respeito a posição do Gilson de caminhar com o governo, mas não é o projeto em que acredito.”
Bruno reitera algo que já dissera aqui em meados de fevereiro, quando se encontrou pessoalmente com Erick Musso e Pazolini na Prefeitura de Vitória.
“Eu não me sinto confortável em apoiar o Ferraço, porque acredito de verdade que, em 2026, começará um novo ciclo no Espírito Santo. Esse ciclo entre Paulo Hartung e Casagrande foi um ciclo positivo. Gostem ou não gostem, foi um ciclo vitorioso. Mas está se encerrando. Na minha percepção, começa agora um novo ciclo, e esse ciclo será melhor representado pelo Pazolini. Creio ser este também o sentimento da população: o perfil desse novo ciclo está na figura do prefeito de Vitória.”
Só um detalhe…
Bruno Lorenzutti declarou apoio eleitoral a Pazolini, pela primeira vez, em 21 de fevereiro deste ano. Tudo bem que, àquela atura, o Podemos de Gilson Daniel estava mesmo a flertar com o prefeito de Vitória… Mas a declaração de apoio de Gilson e do Podemos à pré-candidatura de Ricardo Ferraço só se daria mesmo em abril.
Portanto, Lorenzutti fechou apoio a Pazolini antes de o Podemos bater o martelo quanto a apoiar Ricardo.