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Secretário de Segurança: “Vencemos o pior momento em Vila Velha”

Secretário de Segurança: “Vencemos o pior momento em Vila Velha”

Por Vitor Vogas / ES 360 / Foto-legenda: Leonardo Dmasceno é o secretário estadual de Segurança Pública / Crédito: Sesp

Em entrevista exclusiva, Leonardo Damasceno detalha a situação da migração do crime para Vila Velha e dos conflitos de facções do tráfico de drogas na cidade, após prisão de lideranças em Vitória. Número de homicídios em Vila Velha está mais alto que no ano passado, mas, segundo ele, voltou a cair

Contrariando o viés de queda observado em âmbito estadual e nas outras maiores cidades capixabas, Vila Velha desperta atenção – e preocupação – quando se analisam as estatísticas de assassinatos praticados no Espírito Santo, até agora, em 2025. Na comparação dos primeiros nove meses de 2024 com os primeiros nove meses deste ano, o índice de homicídios dolosos subiu 23,6%, passando de 72 para 89. Enquanto isso, para se ter uma ideia, a queda no Estado inteiro é de 11,3%, considerando o mesmo recorte. Nitidamente, o que está acontecendo em Vila Velha requer um enfoque especial.

Na entrevista exclusiva a seguir, o secretário estadual de Segurança Pública, Leonardo Damasceno, explica as causas desse crescimento do número de assassinatos especificamente em Vila Velha, na contramão da tendência de queda geral no Estado e nas cidades vizinhas.

Ele detalha a situação da migração do crime para Vila Velha e dos conflitos de facções do tráfico de drogas na cidade, após a prisão de lideranças em Vitória. Segundo ele, embora mais alto que no ano passado no acúmulo dos primeiros nove meses, o número de assassinatos voltou a cair, de junho para cá, no segundo município mais populoso do Espírito Santo. O secretário também comenta as ordens que partem dos presídios: “É um problema, mas não é o máximo do problema”. Nega qualquer “falha” no policiamento e no trabalho das forças de segurança em Vila Velha e afiança: “Superamos o pior momento na cidade vencemos”.

Agora, na verdade, o zoom da Sesp se volta para outro grande município, segundo ele.

O que explica esse crescimento do número de assassinatos especificamente em Vila Velha, até setembro deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, contrariando a tendência de queda observada em todo o Estado?

A dinâmica das facções criminosas tem atuação em várias regiões, principalmente em regiões mais populosas. Obviamente são as regiões de maior interesse dessas facções. O que acontece é que, em algumas regiões, os conflitos vão surgindo entre elas, algumas vezes em decorrência da ação do próprio Estado, pois muitos conflitos entre elas geram mais atuação das nossas forças policiais. Especialmente no ano passado, tivemos muitas guerras de disputa de facções na região de Vitória, o que fez com que a gente intensificasse muito nossa atuação na Capital. Prendemos grandes lideranças, o que fez com que atingíssemos nosso objetivo de enfraquecimento desses grupos.

Equacionamos muitos dos conflitos que havia em Vitória. Contudo, o crime migra para continuar perpetrando o interesse dessas facções criminosas. Com isso, alguns conflitos foram transferidos ou potencializados em outros municípios. Muitos desses conflitos foram concentrados, a partir de maio, principalmente em Vila Velha. Maio, junho e julho: esses foram os meses de conflitos mais intensos no município. Depois disso fizemos várias operações lá, e os indicadores de homicídios já estão bem menores de agosto em diante.

Se você fizer o recorte mês a mês, verá que, em maio, ocorreram 13 homicídios em Vila Velha; em junho, ápice da guerra lá, foram 15; em julho, 11; em agosto, 9; em setembro, 6. Hoje, o município que mais nos preocupa não é nem Vila Velha, mas o município da Serra. Entre julho, agosto e setembro, houve muitos conflitos deflagrados na Serra entre grupos criminosos, resultando em muitas mortes no município. Tanto é que, até o meio do ano, a taxa de homicídios na Serra vinha sendo reduzida em mais de 20%. Agora, está 10% menor que no ano passado.

Então, basicamente, o que explica esse crescimento concentrado em Vila Velha é a própria dinâmica do crime, de migração das facções criminosas e, por conseguinte, dos territórios conflagrados?

Esses conflitos que mencionei, entre maio e julho, ocorreram principalmente na Grande Santa Rita e na Grande Terra Vermelha. Aqui no Espírito Santo, temos duas grandes facções: o PCV, Primeiro Comando de Vitória, ligado ao Comando Vermelho; e o TCP, Terceiro Comando Puro. Todos os nossos estudos estatísticos informam que, no Estado, mais de 50% das mortes violentas decorrem de conflitos travados entre essas gangues. Esse é o perfil predominante das mortes violentas no Espírito Santo, então de fato esses conflitos impactam substancialmente o número de mortes, quando se tem uma guerra aberta entre essas duas facções. E foi o que ocorreu em Vila Velha. Tivemos muitas mortes derivadas da guerra do tráfico em Vila Velha, que é uma disputa comercial e econômica.

Então, “afugentados” de Vitória, traficantes de uma facção migraram para a periferia de Vila Velha e passaram a disputar o domínio de pontos de venda de drogas ilícitas ali existentes? É uma guerra pelo controle do comércio ilegal de entorpecentes?

Quando eles perdem um ponto de venda ou se enfraquecem em um ponto de venda, eles buscam o controle de outros. É uma disputa territorial, uma guerra por pontos de venda de droga e, consequentemente, por dinheiro. Quem tem mais pontos de droga tem mais lucro, mais dinheiro oriundo do comércio ilegal do tráfico de drogas.

Secretário, muitos desses conflitos que resultam em mortes têm origem em ordens que partem de lideranças dessas facções que estão presas, ou seja, partem de dentro do presídio. Não é uma falha do próprio sistema prisional estadual?

Tem isso. Mas às vezes a ordem que ele dá lá de dentro é “Vamos dominar o território tal”. Mas quem executa a ordem são os criminosos que estão nas ruas. E são esses criminosos nas ruas que nós estamos combatendo todo dia, prendendo em flagrante, enfrentando com a polícia, trocando tiros. O fato de o criminoso dar a ordem de dentro do presídio é um problema, sim, mas não é o máximo do problema. As guerras de facções naturalmente acontecem enquanto tivermos pontos de droga. Quem tem um ponto quer ter dois; quem tem dois quer ter três, e assim por diante. No ano passado, prendemos lideranças especialmente do PCV, o Primeiro Comando de Vitória. Todas as principais lideranças dessa facção no Estado foram presas e também a maioria das lideranças de outras facções. Mas há, também, as disputas autofágicas, dentro das próprias facções, pelo espólio do caixa, quando cai determinada liderança.

Mas, tornando a Vila Velha, o Estado está falhando em alguma área? Há algo que precisa ser fortalecido pela Sesp e pelas forças estaduais de segurança no segundo município mais populoso do Espírito Santo?

Eu te digo de uma forma muito tranquila: temos uma consistência de redução. Se você analisar ano a ano, você vai ver que tem ano em que a Serra “sobe”, tem ano em que a Serra “baixa”. Vila Velha é a mesma coisa. O retrato pode ser feio, mas, no filme de longa duração, vemos uma queda gradual. O fato é que sempre veremos essas eventuais oscilações, mas o filme é para baixo, e cada vez vamos galgando mais. Quanto mais diminuímos os índices, mais difícil é reduzir ainda mais, até porque as facções vão se especializando. Mas o Estado tem obtido resultados satisfatórios, com a redução consistente. Todo investimento que fazemos hoje pode ser pouco se não inovarmos cada vez mais. Não podemos ficar sempre repetindo a fórmula. É por isso que investimos em efetivo, tecnologia e unidades de inteligência. As unidades da Polícia Militar em Vila Velha não estão falhando. Não estamos falhando. Ao contrário, vencemos esse momento difícil em Vila Velha e não temos mais visto indicadores altos como no trimestre entre maio e julho.

De todo modo, quais medidas podem ser tomadas, com foco em Vila Velha, para vocês reverterem a curva da cidade até o fim de 2025, reduzirem o índice de homicídios e, como dizem no Governo do Estado, “ganharem o ano”?

Os indicadores nos mostram que todas as ações de policiamento e inteligência que fizemos deram resultado. Estamos no caminho certo em Vila Velha. Passamos pelo ápice do problema, e outras regiões agora nos demandam atenção especial. O serviço na segurança pública é muito dinâmico: temos que olhar para todos os lados ao mesmo tempo. Superamos o pior momento em Vila Velha e vencemos. Mas é uma guerra diária. Seguimos lutando todos os dias.

Secretário de Segurança: “Vencemos o pior momento em Vila Velha”

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