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Ricardo Ferraço se encontra com Manato. Mediador: Marcelo Santos

Ricardo Ferraço se encontra com Manato. Mediador: Marcelo Santos

Por Vitor Vogas / ES 360 / Foto: Divulgação

“Visita de cortesia” (impensável se fosse Casagrande) pode ser princípio de aproximação com alguém que teve 1 milhão de votos e preserva patrimônio eleitoral na direita bolsonarista. Leia aqui o relato de Manato e a análise da coluna

Pré-candidato a governador do Espírito Santo, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) teve um inusitado encontro, na manhã do último sábado (18), com um agente político inesperado: ninguém menos que Carlos Manato (PL). E a agenda se deu na “casa do adversário”. Em gesto de cortesia, Ricardo foi ao encontro de Manato na pousada construída e dirigida pelo ex-deputado federal em Pedra Azul, Domingos Martins. O mediador da visita foi o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União Brasil). Ele e o vice-governador tomaram café com Manato, conheceram a sua propriedade, conversaram a portas fechadas e saíram de lá sorridentes.

Ricardo e Marcelo não comentaram o encontro. Manato, sim. Definiu-o como uma “visita de cortesia” dos dois primeiros. E disse que, de política, conversaram muito pouco: “Falamos de maneira genérica. O Ricardo só me perguntou se continuo filiado ao PL. Respondi a ele que ‘tô, mas não tô’”. O ex-deputado confirmou que foi Marcelo Santos quem o procurou para combinar a visita. “Sim, a iniciativa foi dele.”

O substantivo “adversário”, usado no primeiro parágrafo, justifica-se porque Manato foi simplesmente o principal opositor do governo Casagrande no ciclo de 2018 a 2022. Tanto nas eleições de 2018 como nas de 2022, o ex-deputado foi o principal adversário de Casagrande nas urnas – tendo perdido ambas as disputas para o atual governador.

Ricardo, por sua vez, não só apoiou Casagrande como cumpriu papel estratégico nos dois últimos pleitos. Em 2018, como então líder do PSDB, ele jogou de maneira decisiva para levar o partido para a coligação de Casagrande, além de ter sido candidato a senador na mesma coligação do socialista. Em 2022, de novo no PSDB, foi o candidato a vice-governador de Casagrande e, no 2º turno contra Manato, exerceu protagonismo na campanha, como um parceiro de chapa à direita do governador, para derrotar o candidato bolsonarista.

Mas, segundo Manato, o fato de eles terem estado em lados opostos nas últimas duas eleições gerais não o impede de cultivar excelente relação com o atual vice-governador. De acordo com o ex-deputado, há até um detalhe familiar que os une na esfera pessoal: o filho dele e o mais velho de Ricardo, mais ou menos com a mesma idade, são bons amigos, faziam parte da mesma “galera” e, na juventude, passavam fins de semana no apartamento dele em Guarapari.

“Sempre tive muito boa relação com o Ricardo. Aliás, com o Ricardo e o Marcelo. Sempre que vou à Assembleia, o Marcelo me trata com muito carinho”, afirma o ex-deputado.

Manato quer ser candidato a senador em 2026. Para tanto, precisa encontrar outro partido que dê a ele a legenda, mas tem encontrado sérias dificuldades. A direita no Espírito Santo está muito congestionada: faltam partidos, sobram pré-candidatos a senador.

Em todo caso, Manato está determinado a sair do PL, onde já não tem espaço, além de ter rompido politicamente com o senador Magno Malta, presidente estadual da sigla. Daí a sua resposta “tô, mas não tô” à pergunta de Ricardo.

Talvez seja uma leitura exagerada no momento (afinal, foi só um primeiro passo: um café entre velhos colegas de Congresso Nacional)… Mas, ainda que de modo embrionário, o gesto de Ricardo não deixa de representar um princípio de aproximação estratégica com alguém que, desde 2023, deixou de ser a liderança maior do bolsonarismo no Espírito Santo, mas por certo não deixou de ser uma referência importante na direita capixaba.

Em 2022, contra Casagrande, Manato atingiu cerca de 1 milhão de votos. Um patrimônio eleitoral como esse não morre da noite para o dia. É um capital valioso, que torna Manato um aliado cobiçado por qualquer pretenso candidato a governador.

Em março, Manato declarou compromisso de apoio à candidatura de Lorenzo Pazolini (Republicanos) – adversário do Palácio Anchieta.

“Com certeza! Vou apoiá-lo, sim. Estou entrando no projeto porque acredito no projeto. Já disse a eles que estou no grupo, que vou estar junto, que vou trabalhar por isso, quero ser parceiro desse projeto e ajudar a construí-lo”, declarou, àquela altura.

Isso se deu por ocasião do convite do prefeito para a esposa de Manato, Soraya Manato (PP), assumir a Secretaria de Assistência Social de Vitória, na gestão Pazolini. A nomeação foi fruto de acordo entre Manato e o principal articulador político de Pazolini, Erick Musso, presidente estadual do Republicanos.

Mas até a eleição há tempo… E, com a ajuda de Marcelo Santos, Ricardo no mínimo abriu um canal de diálogo com o eminente opositor de Casagrande.

O fato demonstra, por si mesmo, que uma coisa é uma frente eleitoral liderada por Casagrande; outra é uma frente encabeçada por Ricardo Ferraço. Embora aliadíssimos, governador e vice-governador têm perfis políticos diferentes. O escopo de alianças de Ricardo não necessariamente coincide com o de Casagrande: tende a ser mais magro para um lado (à esquerda); pode ser mais abrangente para o outro (à direita).

Basta imaginarmos que uma tal “visita de cortesia” a Manato, por parte de Casagrande, seria simplesmente inconcebível.

As mensagens de Marcelo para Ricardo e Da Vitória. E seu recado enigmático para terceiro(s)

No último fim de semana, entre sexta-feira e sábado, Marcelo e Ricardo passaram quase o tempo todo juntos. No sábado de manhã, como dito, os dois visitaram Manato na pousada dele, em Pedra Azul. Em seguida, Marcelo foi com Ricardo a Colatina, para evento em comemoração aos 35 anos da formatura da turma de policiais militares da qual fez parte o deputado federal Josias da Vitória

Lá, os dois subiram ao palanque ao lado de Da Vitória, em sinal de entrosamento político entre os três.

 

No sentido da leitura: Marcelo Santos, Josias da Vitória e Ricardo Ferraço

No sentido da leitura: Marcelo Santos, Josias da Vitória e Ricardo Ferraço, em Colatina (18/10/2025)

 

Além de cabo da reserva da PMES e coordenador da bancada capixaba no Congresso Nacional, Da Vitória é o presidente estadual do PP e da Federação União Progressista no Espírito Santo. Marcelo é o presidente estadual do União Brasil, segunda perna da mesma federação. Os dois são aliados históricos, desde os tempos em que Da Vitória era deputado estadual. Ultimamente, contudo, têm dado sinais de terem planos eleitorais um pouco divergentes para a federação, nas disputas majoritárias do ano que vem (Governo do Estado e Senado).

Em seu discurso no evento em Colatina, Marcelo tratou de passar três mensagens, tendo Da Vitória de um lado, no palanque, e Ricardo do outro.

A primeira foi a reafirmação de sua aliança inquebrantável com Da Vitória. Discordâncias aqui e ali pode haver, mas os dois seguem juntos e não abrem. Marcelo disse a todos que a amizade com Da Vitória é “um presente que ele recebeu da política”.

A segunda mensagem de Marcelo foi um recado enigmático, não dirigido a ninguém nominalmente, mas que na certa mira alguém próximo, quiçá dentro da mesma federação; alguém que, nas entrelinhas, viria agindo para sabotar a relação política dele com Da Vitória:

“Tem muita gente que está do nosso lado, mas deveria estar do lado de lá, porque tenta criar atrito que, entre nós dois, não tem. Nós estamos mais juntos do que nunca. E vamos seguir juntos, porque eu e você sabemos o que queremos. E o que queremos ainda mais é melhorar a vida das pessoas e deste estado querido. Estamos juntos: eu, você, o vice-governador Ricardo Ferraço, que terá em breve a missão de governar o Espírito Santo”.

A terceira mensagem foi a reiteração do apoio de Marcelo a Ricardo para governador:

“Nós sabemos do seu preparo, da sua experiência, e nós confiamos em você. Não é à toa que você está aqui conosco e se preparou ao longo do tempo”.

Lembrando o biênio passado por Ricardo à frente da Secretaria de Estado do Desenvolvimento (2023/2024), primeira metade do atual governo, Marcelo afirmou que o vice passou dois anos “debruçado numa pasta muito sensível, garantindo e atraindo empresas para o Espírito Santo”, enquanto ele mesmo, Casagrande e outros mais percorriam o Estado em uma série de atividades políticas que geram grande visibilidade (entregas, solenidades etc.).

“Assumiu o Ricardo Ferraço a missão mais difícil que um integrante da classe política pode assumir”, discursou o presidente da Assembleia. Segundo ele, Ricardo cuidou do “maior programa social do Estado: a geração de emprego e renda”.

Ricardo Ferraço se encontra com Manato. Mediador: Marcelo Santos

Ricardo Ferraço se encontra com Manato. Mediador: Marcelo Santos

Ricardo Ferraço se encontra com Manato. Mediador: Marcelo Santos