Por Vitor Vogas / ES 360 / Foto: Divulgação
Dividido entre a gratidão ao Republicanos (de Pazolini) e a necessidade de aproximação com o Governo do Estado (Ricardo), prefeito da Cidade Saúde diz que não tem por que antecipar apoio: “Sou a noiva”
O prefeito de Guarapari, Rodrigo Borges, foi eleito em 2024 com o discurso de tirar a cidade do isolamento político em que estagnou por anos, durante as gestões de Edson Magalhães e aliados. Filiado ao Republicanos, ele não foi o candidato do governo Casagrande, que apoiou o deputado Zé Preto. O próprio governador chegou a gravar vídeo com declaração de apoio a Zé Preto na reta final da campanha, mas, numa disputa apertada, Rodrigo Borges prevaleceu.
Uma vez na Prefeitura de Guarapari, cumprindo a promessa, ele passou a estreitar o relacionamento institucional e administrativo com o Governo do Estado, o que já tem rendido frutos à cidade. Nesta sexta-feira (3), por exemplo, ao lado do atual prefeito, Casagrande realizará a solenidade de início da distribuição de gás natural canalizado em Guarapari. A cidade precisa desse gás.
Para as eleições de 2026 no Espírito Santo, o partido de Rodrigo Borges, Republicanos, aposta todas as fichas na candidatura do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini, ao Palácio Anchieta. Mas, em conversa com a coluna, Rodrigo não garante apoio eleitoral ao seu colega de partido. Aliás, não declara apoio antecipado a ninguém, nem a Pazolini nem a Ricardo Ferraço (MDB). Dividido entre a necessidade de aproximação com o Governo do Estado e a gratidão ao Republicanos, o prefeito de Guarapari afirma que só tomará partido no ano que vem e deixa muito claro qual será o seu critério (o mais pragmático possível):
“Eu vou apoiar quem for melhor para Guarapari. Esse é o ponto-chave, tanto para Pazolini quanto para Ricardo.”
Perguntei, então, ao prefeito: e se Pazolini, seu correligionário, viabilizar a candidatura ao Governo do Estado pelo Republicanos? A resposta foi ainda mais sincera:
“Se hoje manifesto algo nesse sentido, como você está querendo, podemos perder essa aproximação com o Palácio Anchieta. E hoje eu sou a noiva, sou cortejado pelos dois lados. Tenho esse benefício. Se você põe numa publicação que apoio alguém, isso gera um prejuízo muito grande para o povo de Guarapari por causa de uma matéria. Então não vou declarar para você nem apoio a Pazolini nem a Ricardo. Eu não quero antecipar essa eleição. Hoje você manifestar algum apoio pode ser um erro fatal na política, porque você pode se condenar”.
Consciente da dependência de recursos do caixa do Governo do Estado, o prefeito confirma a aproximação que está em marcha com a administração de Casagrande. “Eu tenho uma aproximação institucional com o Palácio Anchieta. O Governo do Estado precisa ajudar a cidade de Guarapari, que não vive uma situação econômica boa. A cidade vive muitos problemas. Os municípios passam por dificuldades, enquanto o Governo do Estado, graças a Deus, passa por uma boa saúde financeira.”
Por sinal, a ajuda financeira aos municípios é destacada por Rodrigo Borges como um dos fatores fundamentais para a definição do seu posicionamento eleitoral, a exemplo de muitos outros prefeitos.
“Eu ainda não vi as propostas de ninguém. Temos visto as movimentações de lançamento dos nomes. Mas as ideias para o Estado são relevantes. Preciso saber, por exemplo: como eles vão tratar os municípios? Hoje vejo o Renato [Casagrande] municipalista. Já ouvi o Ricardo, em outra fala, dizer que vai seguir essa linha. E o Pazolini? Vai seguir essa linha? E o Arnaldinho? Eles também são prefeitos. Vão olhar as dificuldades das prefeituras? Isso interessa para os eleitores e interessa também para os prefeitos. A pauta municipalista é fundamental para alguém receber o meu apoio, como prefeito, ao Governo do Estado, independentemente de quem for.”
Rodrigo joga com o tempo a seu favor, até porque ele mesmo não é candidato a nada, mas sabe que pode ser um valioso cabo eleitoral – ou seja, são eles que necessitam do seu apoio, e não o contrário, na disputa estadual.
“Vou deixar para me posicionar politicamente mais perto das eleições, até porque hoje eles é que são os candidatos. Eu não sou candidato a nada. Apoio e voto a gente pode dar em cima da hora, e voto é no dia da eleição. Reservo-me o direito de fazer manifestação pública de apoio no ano da eleição. Tenho esse direito. Vamos supor que eu declare apoio hoje a um pré-candidato, aí lá na frente ele se queima… eu fico numa situação difícil. Hoje trabalho muito mais a pauta institucional, esperando também as definições nacionais.”
Por falar em “definições nacionais”, outra variável que leva o prefeito de Guarapari a manter a prudência e adiar ao máximo a “subida no palanque” de alguém é a noção de que a arrumação das peças no tabuleiro eleitoral nacional, ainda muito em aberto, terá uma grande influência no arranjo dos tabuleiros locais. Ainda é muito cedo para saber de que maneira isso vai se operar, mas é certo que vai influir.
Ele cita, por exemplo, a crescente probabilidade de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ser candidato à Presidência da República pelo Republicanos (seu atual partido e o de Pazolini). Na sua avaliação, se essa candidatura ao Planalto se concretizar (ou até para se concretizar), algumas candidaturas majoritárias nos estados poderão ser sacrificadas. É o que ele formula:
“Eu queria muito que o Republicanos fosse protagonista na campanha majoritária para a Presidência. Para o Tarcísio de Freitas ser candidato à Presidência da República, podem acontecer entendimentos nos estados, que ultrapassam qualquer torcida e qualquer articulação estadual. Hoje é muito prematuro fazer qualquer leitura como essa sem sabermos como Brasília vai se posicionar. Meu desejo, eu sendo do Republicanos, é ver um presidente do Republicanos. Isso abriria a porta nacional para nós. E sabemos que, para isso acontecer, às vezes as composições nos estados são fundamentais. Já vimos reflexos disso em eleições anteriores aqui”.
Ele prossegue:
“Lorenzo [Pazolini] conta com a minha admiração. Vejo ele como um grande líder do Republicanos. Mas um partido é composto por vários, inclusive nacionalmente. Hoje, por exemplo, o Roberto Carneiro é o presidente do Republicanos em São Paulo. Aí eu acho que o Governo do Espírito Santo extrapola uma aliança local. Precisamos pontuar isso. Entender qual é o maior objetivo do partido: é o Palácio do Planalto? Se for mesmo o Palácio do Planalto, muitas candidaturas podem nem emergir, podem ser retiradas em alguns estados. Nós já vimos isso”.
No melhor dos mundos para ele, o prefeito de Guarapari diz torcer por um entendimento, no Espírito Santo, entre os dois grupos políticos, hoje em lados opostos: o de Pazolini e o de Casagrande com Ricardo Ferraço. “Essa composição seria o melhor para o estado do Espírito Santo.”
Será muito difícil ver os dois grupos juntos no mesmo movimento eleitoral. Mas Rodrigo não é o primeiro a vocalizar esse desejo e a opinião de que semelhante aliança faria bem ao Estado. O deputado federal Josias da Vitória (PP), por exemplo, tem propugnado essa união de forças e trabalhado nos bastidores por isso.
Rodrigo Borges lembra ainda que, nas eleições estaduais de 2022, ele pessoalmente apoiou Casagrande para governador, embora o Republicanos tenha apoiado Manato (PL) no 2º turno. Pazolini não verbalizou apoio.
Finalmente, para ilustrar como está pisando em ovos, o prefeito lembra que um de seus principais adversários locais – seu antecessor, Edson Magalhães – é muito ligado a Theodorico Ferraço (PP), pai de Ricardo Ferraço, enquanto outro, o deputado Zé Preto, é da base do governo Casagrande.
O prefeito encerra a entrevista com outra declaração importante: dependendo de como se desenhar a conjuntura eleitoral capixaba, ele admite que pode sair do Republicanos: “Dependendo da conjuntura, posso. Farei o que for melhor para Guarapari”.
A conferir.