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Mudanças: Arnaldinho já não descarta disputar governo contra Ricardo

Por Vitor Vogas / ES 360 / Foto: Arnaldinho Borgo (no canto esquerdo), durante coletiva de imprensa. Ao fundo, na tela da TV, Aécio Neves, por videoconferência / Crédito: Vitor Carvalho

Entrada de Arnaldinho no PSDB para presidir o partido no Estado reposiciona totalmente o prefeito de Vila Velha no tabuleiro político-eleitoral capixaba para 2026 e tem o poder de deslocar outras peças

A entrada de Arnaldinho Borgo no PSDB para presidir o partido no Espírito Santo reposiciona totalmente o prefeito de Vila Velha no tabuleiro político-eleitoral capixaba para 2026. Agora com legenda assegurada em um partido respeitado e com história, Arnaldinho já não descarta concorrer ao Palácio Anchieta mesmo contra o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). O presidente nacional dos tucanos, Aécio Neves, deu-lhe total autonomia para conduzir o projeto eleitoral do PSDB no Espírito Santo e fez questão de reiterar esse ponto.

Na entrevista coletiva com Aécio nessa quinta-feira (4), logo após o presidente nacional se despedir da videoconferência, a pergunta da jornalista para o prefeito de Vila Velha foi direta: ele descarta a hipótese de entrar no páreo contra Ricardo, em agosto do ano que vem? Arnaldinho teve a chance de descartá-la. Teve a bola levantada para rechaçá-la. Não o fez. Respondeu que “depende de vários fatores”.

“Depende da nossa capacidade de fazer política partidária no Espírito Santo. Depende da nossa capacidade de dialogar com a sociedade capixaba. Depende das pesquisas científicas, e não do embasamento do achismo, do que a sociedade deseja no futuro”, respondeu Arnaldinho.

“Nós estamos falando que não vamos para uma aventura. Já falei várias vezes que não serei pedra de tropeço e não cometerei loucuras. Loucuras igual se colocar como candidato se a pesquisa demonstrar que não tenho viabilidade para isso.”

“Mas, se a pesquisa mostra que eu sou viável, que a sociedade deseja dialogar, deseja falar de políticas públicas, construir plataformas, com toda a certeza colocarei meu nome à disposição para disputar a eleição.”

Assim como o próprio Casagrande, o prefeito de Vila Velha segue acreditando que o ideal, para a situação, é lançar um só candidato que concentre as forças governistas e construa uma grande unidade em torno do seu nome. Por evidente, ele quer ser esse candidato – em detrimento de Ricardo.

“Vou trabalhar pela união. Vou buscar dialogar com todos para que a gente possa fazer uma grande aliança no Espírito Santo, para que a gente possa fazer política juntos. […] Se depender de mim, faremos uma grande aliança no Espírito Santo.”

Mas e se ele não for o escolhido pelo governador? Se a “grande aliança” não for em torno dele? Se Casagrande decidir que seu candidato e o do seu grupo à sucessão será mesmo Ricardo Ferraço? Ainda assim Arnaldinho insistirá na própria candidatura? Foi o que perguntamos a ele. A resposta mais uma vez sinaliza sua determinação em não desistir.

“Temos que aguardar. Na democracia, o poder não se reproduz em cativeiro. A gente tem a legitimidade, principalmente agora, com um partido a envergadura do PSDB, de dialogar sobre o Espírito Santo.”

“Por que a gente não pode dialogar sobre o Espírito Santo? Por que a gente vai ficar limitado a dialogar? Nós não estamos indo contrário a nenhuma política e nenhuma pessoa. A gente quer conversar e pensar o Estado do Espírito Santo. Isso é altamente legítimo para qualquer quadro político.”

Arnaldinho ainda indicou que seguirá firme até o limite do prazo para pedido de registro de candidatura, em 15 de agosto do ano que vem, mesmo que Casagrande indique Ricardo para sucedê-lo, renuncie ao mandato em abril e passe o governo para o atual vice-governador.

“Não tem problema. Até o dia 15 de agosto, ele pode ter outro candidato.”

Para bom entendedor: mesmo na hipótese acima, Arnaldinho também pretende renunciar ao mandato de prefeito em abril e, nos quatro meses seguintes – mesmo com Ricardo no cargo de governador –, seguirá buscando convencer Casagrande a apoiá-lo.

Arnaldinho refuta candidatura a vice

Arnaldinho tornou a dizer que não quer ser candidato a vice-governador de Ricardo.

“Sabemos que tem o desejo [no Palácio Anchieta]. Mas não tenho interesse em ser vice.”

Estremecimento com Casagrande?

Perguntamos ainda a Arnaldinho se ele teme que seu movimento de “chegada por cima” ao PSDB, partido da base casagrandista, gere algum abalo ou estremecimento em seu relacionamento político com o governador. O Palácio Anchieta na certa não ficou muito satisfeito com a operação – até porque também foi pego de surpresa, como quase toda a torcida do Flamengo. O próprio Casagrande ficou sabendo do encontro político de Arnaldinho e Aécio como todos: depois do ocorrido.

É o que se depreende da declaração do governador na semana passada, dois dias após o encontro. Em tom sutilmente recriminatório, afirmou que tudo bem que Arnaldinho entrasse no PSDB, “desde que fosse combinado com a direção local”. Notem que, em suas palavras, o governador nem sequer considerou a possibilidade de Arnaldinho se tornar a direção local (como agora ocorreu).

Obviamente, a movimentação do prefeito ignorou o até então presidente estadual, Vandinho Leite, aliado de Ricardo Ferraço e líder do governo Casagrande na Assembleia Legislativa.

Arnaldinho respondeu, porém, que não teme nenhum estremecimento, e devolveu a pergunta com outra, retórica:

“Primeiro eu tenho que retornar a pergunta a vocês: qual foi a mudança partidária que teve no Espírito Santo que foi combinada [em âmbito] local? Eu não estou fazendo nada e ‘tomando partido’, até porque o PSDB não é um partido que se toma. O PSDB tem uma história construída. Eu fui convidado a entrar no PSDB. Eu não tomei partido de ninguém. Acredito que o PSDB não tem essa característica, como já foi dito pelo presidente nacional”, disse o agora presidente estadual do partido.

“Sobre estremecer a relação, eu acredito que não, até porque minha relação com o governador é muito consolidada. Eu brinquei com ele há pouco tempo que, se ele brigar comigo, eu não brigo com ele. Ele deu uma risada e falou: ‘Eu também. Se você brigar comigo, eu não brigo com você’. E é o que está valendo.”

Sobre o tema PSDB, Arnaldinho disse só ter dialogado com Casagrande uma vez, logo após sua primeira conversa com Aécio, na semana passada. Isso até a entrevista coletiva em questão.

Como diria o garotinho-propaganda da marca de leite… “Tomou?”

Dificilmente Vandinho Leite, apeado da presidência estadual, concordará com a afirmação acima de Arnaldinho…

Na opinião do colunista – não que faça a menor diferença –, pode-se até evitar a expressão “tomou o partido”, que é um pouco grosseira. Mas, na prática, não foi muito diferente disso.

Compromisso com Casagrande: Senado

Arnaldinho deixou claro que não abre mão de ajudar Casagrande a se tornar senador da República. Isso foi combinado com Aécio. Além disso, Arnaldinho e Aécio endossam a pré-candidatura ao Senado de Luiz Paulo Vellozo Lucas, chamado pelo prefeito de Vila Velha de “quadro histórico” e “nosso senador”.

Atendendo a um pedido direto de Aécio, Arnaldinho prestigiou Luiz Paulo. Ele foi mantido na presidência do PSDB em Vitória e assume a presidência estadual do Instituto Teotônio Vilela, órgão de formação política da agremiação.

Aécio para Victor: “Venha logo!”

A entrevista coletiva, da qual Aécio participou virtualmente, foi dada no gabinete parlamentar do deputado federal Victor Linhalis na Praia da Costa, em Vila Velha. Hoje no Podemos, o “deputado federal do Arnaldinho” também irá para o PSDB, mas só em março, na janela partidária, para não correr o risco de perder o atual mandato na Câmara.

“Estou muito feliz porque nosso grupo está sendo abraçado, Aécio! Isso nos dá fôlego e legitimidade para disputar uma cadeira e discutir o Espírito Santo”, disse o deputado.

“Você é uma unanimidade”, respondeu Aécio para Victor. “Vai me ajudar a reconstruir o partido no Brasil inteiro. Venha logo!”

O vice-prefeito de Vila Velha, Cael Linhalis (PSB), pai de Victor, também participou da coletiva.

Aécio Neves: lipoaspiração

Aécio mostrou-se muito otimista quanto ao ressurgimento do PSDB no cenário político nacional. “Costumo dizer que o PSDB é uma ilha programática cercada de partidos pragmáticos.” Segundo o presidente nacional, “o PSDB passou por uma lipoaspiração e está voltando agora, robusto”.

Botou um pouco de botox também.

Avenida Brasil

“A polarização da política brasileira não é eterna. A avenida do centro vai se reabrir. O nosso grande desafio é recolocar o PSDB nessa avenida de centro”, formulou Aécio.

Luiz Paulo: a volta do bom senso e do bom humor

Dizendo-se feliz com a chegada de Arnaldinho (ele o chama de Arnaldo) e Victor Linhalis, Luiz Paulo afirmou que, sob a liderança de Aécio, o PSDB de fato vai iniciar um ciclo de reconstrução.

“Uma das razões de o partido ter se reduzido de tamanho é porque o país ficou numa polarização extremista à qual o PSDB não se rendeu. As pesquisas agora mostram a demanda dos brasileiros pelo equilíbrio, pelo bom senso, pelo bom humor, pela seriedade com a coisa pública… São os valores do PSDB. […] Com a chegada de Arnaldo e de Victor Linhalis, o PSDB está em condições de liderar esse novo ciclo”, opinou o ex-prefeito de Vitória.

Para ele, “o PSDB deixou de ser um patinho feio para ser um exemplo para o Brasil” e “Aécio vai conduzir o PSDB antenado com os novos tempos da política”.

Enormes qualidades”

Arnaldinho agradeceu a Aécio pela confiança e, em troca, ouviu muitos elogios: “Vejo em você enormes qualidades para levar a bandeira do PSDB em todo o seu estado e até fora dele. Acho que você vai fazer uma trajetória belíssima no PSDB”.

Acerca dessa trajetória, Arnaldinho disse esperar que seja longa. “Não entro no PSDB para sair no dia de amanhã”. Ele disse querer fazer história no partido, como Luiz Paulo.

Montagem de chapas de deputados

Arnaldinho também assumiu com Aécio o compromisso de montar, no Espírito Santo, chapas competitivas para a Câmara Federal e a Assembleia Legislativa. Terá trabalho.

Tirando o futuro ingresso de Victor Linhalis, a chapa de federais do PSDB é, no momento, um terreno desértico. Já na de estaduais, os dois pré-candidatos mais competitivos – os atuais mandatários: Vandinho e Mazinho dos Anjos – acabam de anunciar sua decisão de deixar o partido, em consequência, justamente, da “tomada” de Arnaldinho.

Mas o prefeito mostrou-se otimista. “Não tem nome alinhavado nenhum. Acho que, com nossa vinda, o PSDB se torna um grande partido. E, com a vinda do Victor, o partido terá uma chapa competitiva”, projetou. “Se depender de mim, teremos uma chapa robusta para eleger dois deputados federais.”

Aí sonhou alto demais. Numa bancada de dez federais pelo Espírito Santo, fazer um já será difícil e estará de ótimo tamanho.

Sobre Vandinho e Mazinho

“Se depender de mim, eles ficam. Quero que eles ajudem a construir esse projeto em que estamos entrando agora, porque são pessoas importantes para o partido”, declarou Arnaldinho, na coletiva, sobre Vandinho e Mazinho. Antes mesmo disso, eles já tinham decidido sair.

Partidos satélites: PRD e Solidariedade

Os pequenos Partido Renovação Democrática (PRD) e Solidariedade, de Paulinho da Força, já declaram nacionalmente apoio a Arnaldinho para governador. Os dois formarão uma federação. Em troca, o prefeito também os ajudará na montagem das chapas de deputados no Espírito Santo.

A meta ali é mais modesta: superar a cláusula de desempenho (cerca de 45 mil votos para federais, no Espírito Santo). Segundo Arnaldinho, sua prioridade recairá sobre as chapas do PSDB, “com toda a certeza”.

Os números do PSDB hoje

De acordo com o prefeito de Vila Velha, hoje, no Espírito Santo, o PSDB soma quatro prefeitos, seis vice-prefeitos e 52 vereadores

Partido segue na base

O prefeito garante que o PSDB, sob sua direção, seguirá na base parlamentar de Casagrande e que não pedirá espaço para a sigla no secretariado do governo.

“Vamos ter uma conversa com o governador e explicar que o PSDB era base e continua base. O PSDB não será problema político para ele. Sobre querer ter cota, acredito eu que o PSDB não tem essa necessidade de ter cota em governo nenhum. O PSDB não vive de cota. Não é a nossa forma de fazer política querer cota, ou seja, querer algo em troca, para apoiar politicamente o governo.”

A nova Executiva Estadual

Uma nova Comissão Executiva Provisória passou a valer nesta quinta-feira (4). A composição ficou assim:

  • Presidente: Arnaldo Borgo Filho
  • Vice-presidente: Thomaz Tommasi Filho
  • Secretário-geral: Sérgio de Souza Freitas
  • Tesoureiro: Rodrigo Cesar Mathias Cardoso
  • Presidente do Secretariado da Mulher: Lyza Kely de Oliveira
  • Presidente do Instituto Teotônio Vilela: Luiz Paulo Vellozo Lucas
  • Primeiro vogal: Anderson de Oliveira Almeida
  • Segundo vogal: Fabrício Barcelos dos Santos

O secretário-geral e o tesoureiro são assessores de Arnaldinho e Victor.

O órgão ainda não foi lançado no sistema de consultas públicas do TSE.

Mudanças: Arnaldinho já não descarta disputar governo contra Ricardo