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Teste de fogo para Lula no Espírito Santo

Por Poder / ES HOJE / Foto: Divulgação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarca no Espírito Santo nesta sexta-feira (11), salvo alguma reviravolta de última hora, para anunciar o início dos pagamentos do Programa de Transferência de Renda voltado a agricultores familiares e pescadores, no âmbito do Novo Acordo do Rio Doce. Apesar do foco social da agenda, o pano de fundo da visita é delicado — e pode transformar o palanque em campo minado.

A visita ocorre sob a sombra do tarifaço de 50% anunciado pelo ex-presidente e atual pré-candidato Donald Trump, nos Estados Unidos, sobre produtos brasileiros. O anúncio feito na quarta-feira (9) acendeu alertas em todo o setor produtivo nacional, sobretudo entre representantes da indústria e do agronegócio, que enxergam na medida um risco real à manutenção de empregos e à estabilidade das cadeias produtivas.

No Espírito Santo, a reação foi imediata. A Federação das Indústrias do Estado (Findes) expressou forte preocupação, destacando que o estado possui uma das economias mais abertas do país, profundamente integrada ao comércio exterior. A entidade alertou que medidas protecionistas como essa afetam diretamente a previsibilidade dos negócios, comprometem a arrecadação e ameaçam o crescimento regional.

O governador Renato Casagrande (PSB) também se posicionou com firmeza: “As tarifas impostas pelo presidente Donald Trump ao Brasil representam um retrocesso. Como governador de um estado com relevante comércio internacional, defendo o comércio justo, o respeito entre as nações e o diálogo acima de disputas políticas. A medida atende a motivações ideológicas, não aos interesses do povo brasileiro e americano”, afirmou.

Ou seja, Lula chega ao Espírito Santo em meio a um clima de pressão, com expectativas por respostas que protejam a economia local e os empregos, especialmente num estado cuja vocação exportadora o torna mais vulnerável a solavancos internacionais.

Por outro lado, a visita também pode representar uma oportunidade para o presidente. O Espírito Santo foi um dos estados onde Jair Bolsonaro (PL) teve expressiva votação e onde o conservadorismo vem se consolidando nos últimos anos. A presença de Lula, portanto, além de institucional, carrega simbolismo político: um teste de popularidade e força de articulação num território majoritariamente bolsonarista.

Curiosamente, o tarifaço de Trump pode se transformar num revés para a ala bolsonarista. O ex-presidente americano é ícone entre os apoiadores de Bolsonaro, muitos dos quais defendiam medidas duras dos EUA contra o Brasil como forma de pressionar o governo Lula e, quem sabe, até pavimentar o retorno de Bolsonaro à cena política. Só que a dose pode ter vindo acima do receitável — e agora o prejuízo à economia brasileira, especialmente a capixaba, pode cair no colo de seus próprios apoiadores.

“É a economia, estúpido”, já dizia o estrategista James Carville, em 1992, sobre o foco do eleitorado americano. Trinta anos depois, a máxima continua valendo para o Brasil. Dinheiro pode não trazer felicidade, mas garante comida no prato, contas em dia e uma dose de tranquilidade que influencia diretamente o humor do eleitor.

Lula tem, portanto, um desafio real e urgente em mãos — mas também uma janela de oportunidade. A depender da resposta que apresentar, pode reforçar sua imagem de liderança que protege os interesses do povo. E, ironicamente, Trump, ao tentar agradar aliados ideológicos, pode ter reconfigurado de forma precoce o tabuleiro de 2026.

Teste de fogo para Lula no Espírito Santo

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